Comunicação para lutar

No Brasil, o domínio das elites sobre a liberdade de expressão constitui um dos entraves à democracia, tal domínio é verificado no alto nível de concentração dos grandes veículos de comunicação nas mãos de dezenas de corporações, cujos oligarcas e líderes religiosos estão entre os principais acionistas. Os interesses privados dessas corporações produzem representações midiáticas nefastas para os imaginários da população, e as relações de poder desiguais são aceitas como se fossem naturais, justas e eficientes. No campo político, as mesmas corporações tacham como autoritário qualquer projeto de lei que objetive democratizar os meios de comunicação, nesse sentido, o direito da liberdade de expressão é restringido às visões de mundo das elites sobre a cultura, a arte e as relações sociais. Assim, no último domingo, as esvaziadas manifestações da direita, com uma pauta difusa e controversa, cuja suposta luta contra corrupção paradoxalmente não significa oposição ao governo Temer, possuem mais espaço na grande mídia, especialmente para suas lideranças tentarem explicar o alto nível de desinformação e a parca consciência política associadas às suas bandeiras, do que as grandes marchas da classe trabalhadora no 15 de março, claramente contrárias à agenda neoliberal. Portanto, no momento, é do interesse das grandes mídias e das elites, como um todo, que a aparente falta de alternativas, supostamente flagrante na transmissão do fracasso das manifestações “legítimas”, seja publicada para a sua audiência e a desencoraje de tentar impedir as reformas negativas do atual governo, mesmo que tal audiência a constate, como vem acontecendo. Daí a necessidade e a relevância de ações alternativas de comunicação na atual conjuntura, as pessoas precisam se comunicar através de
discussões, estudos e iniciativas que apontam para outras possibilidades de desenvolvimento e bem viver, inclusive uma leitura mais crítica sobre o papel das crises nas economias capitalistas. A renovação política e a construção de uma democracia real dependem de mobilizações sociais a partir do direito à comunicação livre, popular e plural, liberta do totalitarismo e da ideologia privatista da grade atual. A propaganda da inércia proposta pela grande mídia é o aprofundamento do golpe e não deve ser considerada uma condição, mas uma temida possibilidade.

D.F.