A frustração com o governo Temer, que não reverte a crise econômica e nem possui qualquer verniz moral, favorece a percepção da natureza antipopular do programa que o elevou à presidência, materializado em agressivas reformas contra os direitos constitucionais. Resta ao tal governo “fugir para frente”, atrelando o futuro ou o colapso da sociedade brasileira à aprovação das suas reformas. A retórica oficial vai pouco além disso. A equipe econômica do capital financeiro é o patrão de Temer, atraída pelas arcas do fundo de pensão e da previdência social. O presidente é aquela fachada branca, masculina, cristã e acadêmica, floreando discursos cívicos e desenvolvimentistas para o massacre que se anuncia. Após a retenção dos investimentos públicos pelo capital diante da primeira especulação desfavorável aos seus interesses, surge a crise e o oportunismo da ortodoxia liberal. Nesse momento, o estado, devidamente adaptado, com um golpe, por exemplo, atua em todas as frentes para passar o sinal de que naquele território, pode ser o Brasil, a extração da mais valia e as taxas de juros têm o céu como limite, e que a contrapartida do capital, em termos de responsabilidade social e garantia dos direitos constitucionais, é mínima, irrelevante. Só assim o PIB voltaria. A concepção hegemônica de que a sociedade é serva do capital. Dessa hegemonia vem o feitiço do PIB, se agora estivesse em alta, a avaliação do governo seria outra, a tramitação das reformas teria uma vida tranquila e seria triunfante a tese do “conjunto da obra” para criminalizar a esquerda. A ampla adesão à paralisação geral dessa sexta-feira (28/04) demonstra a força da classe trabalhadora, a força da sua perspectiva sobre a disputa ideológica entre os significados do colapso e do futuro ao balizarem os parâmetros do desenvolvimento e da crise. A mensagem de que não haverá futuro sem direitos trabalhistas, sem previdência social, sem terras indígenas e quilombolas, sem igualdade de gêneros, não há futuro para um território pensado somente através do PIB. A bancada golpista e o governo podem apostar corrida com a insatisfação popular até 2018, empurrando as reformas de qualquer jeito. Só que isso não é tudo, leis reacionárias aprovadas sem legitimidade podem enfurecer a população, e uma população em fúria não retomará o PIB. Seria precipitado desprezar essa possibilidade de colapso para o atual governo. Um motivo e tanto para a esquerda pensar além do lulismo, que ainda não se apresentou além da absolvição de Lula. Um motivo e tanto para levar as dissonâncias e as discordâncias em defesa da classe trabalhadora, das minorias sociais e dos povos tradicionais. No Recife, a concentração do ato é na Praça do Derby a partir das duas da tarde, nessa sexta (28/04).