O presidente Temer não cairá, e a questão é o estrago que fará. Graves denúncias da procuradoria federal comprovadas em gravações por toda opinião opinião pública não o derrubaram. Para salvar-se distribuiu benesses para os setores financeiro, agropecuário e barganhou emendas parlamentares para manter sua base política, uma máfia formada por novos reacionários e renomados parasitas da república. As promessas de quando era vice e apenas conspirava contra sua presidenta já foram descumpridas, o rombo do orçamento, o desemprego e a queda da renda são agravadas pelo sequestro da união para a manutenção de um governo ilegítimo.
Falta um ano para eleições presidenciais, governamentais e dos legislativos estaduais e federal. O governo Temer sofre com a pior apenas da história política do Brasil, apenas 5%, logicamente tal repulsa respinga em seus apoiadores, que dominam o congresso, mas considerados pela sociedade como corruptos e/ou golpistas. As reformas neoliberais através do teto do orçamento, da privatização, do desmonte da legislação trabalhista e da educação pública é um projeto de médio e longo prazo para tornar o Brasil em um paraíso para o capital e um inferno para o trabalho. No entanto, como assegurá-lo numa república se os responsáveis por esse projeto são severamente rejeitados pela população?
A resposta de 50 anos atrás seria um golpe militar. Hoje apenas simulado periodicamente, sob a batuta do Ministro da Defesa Raul Jungman, ao enviar o exército para as principais capitais sob o disfarce de repressão ao crime organizado, além do estado de exceção decretado na capital por conta das manifestações populares contra a reforma trabalhista. O discurso de salvar o país do comunismo e dos subversivos não faria o menor sentido, e as forças armadas e as igrejas cristãs estão prevenidas do desgaste trazido por uma ditadura. Então o presidente mais impopular da história brasileira resolver pautar uma reforma política nas vésperas das próximas eleições, mesmo que em 1993 um plebiscito tenha escolhido o sistema presidencialista tendo em conta a soberania das urnas associada à eleição de um chefe para o executivo.
Em 2014 Dilma foi reeleita por uma plataforma popular, logo o legislativo de maioria oposicionista deveria negociar a governabilidade através dessa escolha, porém o congresso depôs a presidenta sem ter havido crime como forma de vetar o eleitorado. As oportunistas alianças, a infinitude de partidos de aluguel e o poder econômico e midiático como fator decisivo para conseguir um mandato dificulta ao eleitor o discernimento da composição política do país. Portanto, a tarefa atual do legislativo significa conter o sufrágio universal e manter a governabilidade para as elites através da chantagem e da ilegalidade. Eduardo Cunha, ex-presidente do Congresso e atualmente detido em um presídio federal, continua sendo o principal líder da atual legislatura.
Temer já é primeiro-ministro, pois a sua única base política é o congresso, resta oficializar o cargo. O primeiro ato da reforma política é anular o quociente eleitoral, mecanismo para estabelecer a representatividade da minoria e a efetividade dos votos associando as coligações, os candidatos e as cadeiras disponíveis para compor a legislatura por blocos. O segundo ato é estabelecer um sistema simples e essencialmente excludente, porque as cadeiras seriam ocupadas apenas pela quantidade de voto de cada candidato, dessa forma, forças sociais relevantes ficariam de fora da política institucional, e os candidatos de maior poder econômico e midiático enfim se apossariam de todo congresso para esvaziar qualquer possibilidade de representatividade. O terceiro ato é a tomada do poder através de uma emende constitucional parlamentarista proposta uma legislatura homogênea e eleita apenas pela riqueza das suas campanhas. O ato final é diplomar um primeiro-ministro e tornar decorativo o presidente eleito enquanto as capitais são sitiadas pelas forças armadas.
Não se espera da direita atos de grandeza. Os privilégios mais mesquinhos são transformados em projetos de poder. No Brasil, despudorada escancara o governo da fraude orçamentária e está disposta a tudo.