A carga das delações premiadas atingiu toda a cúpula política brasileira. As maiores baixas vieram da coluna tucana, cuja retórica era a denúncia da dilapidação do estado brasileiro pelo programa petista, com o esvaziamento desse discurso e a quebra da fachada ética. A táctica de golpear as urnas, ao considerar que o povo brasileiro estava cooptado pelo PT e por isso incapaz de reconhecer os talentos e as virtudes do PSDB, preparou a própria armadilha. Como desconstruir as acusações frente à opinião pública quando a defesa da lava jato foi a principal arma política para a inversão das eleições presidenciais de 2014, defendendo inclusive o conjunto de ilegalidade cometido pelo poder judiciário? Enquanto isso o PT, em frangalhos após as eleições municipais de 2016 e reduzido à oposição em um congresso golpista e reacionário, denunciava o viés político e ideológico da operação e reorganizava-se em torno do lulismo para sobreviver. Agora o tucano acusador e moralista, alçado à situação através de um processo de impedimento cada vez mais fajuto e tornado coadjuvante do cacique encarcerado Eduardo Cunha, é pego de calça curta na “delação do fim do mundo”, e o PT, devidamente engatilhado para 2018, pisca, como se dissesse “eu bem que te avisei”. Uma prévia dessa táctica desastrosa foi a ação movida pelo PSDB contra a chapa Dilma-Temer, acusando-a de desviar da Petrobras para a campanha, configuraria assim uma competição desleal, algo que não o impediu de compor, em um curto espaço de tempo, o governo supostamente resultante do “maior escândalo de corrupção da história do Brasil”. Dessa maneira, obrigado a passar pelo desgaste de defender uma absurda cisão da chapa e ter o principal interessado, Aécio Neves, denunciado nas evidências movidas para justificar a própria ação. Ficou claro que as eleições perdidas pelo PSDB foram causadas em grande medida pela sua própria incapacidade de conceber uma visão de país além da classe média, da Globo e do Plano Real, não pelo apelo populista, demagógico e corruptor do PT, como era propagado. Vulneráveis, ameaçados até por Dória, alguns tucanos se preparam para tirar o nariz, como o ex-chanceler Serra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-presidenciável Aécio, e se esgueiram para atrás da sombra de Lula, o inimigo número um da república de Curitiba.