Decifra-me ou te devoro

Em São Paulo, no Sindicato dos Padeiros, foi realizado um seminário entre as principais centrais sindicais brasileiras para discutir as reformas da previdência e trabalhista, participaram CGTB, CSB, CSP-Conlutas, CTB, CUT, Força, Intersindical, Nova Central e UGT, apesar das nuances no discurso, foram unânimes em admitir o desmonte do pacto constitucional e a travessia para o estado mínimo. A falta de transparência sobre os parâmetros que fundamentam a agressividade das reformas e de diálogo com os diversos setores da sociedade civil, inclusive as entidades trabalhistas, indicam a entrega da previdência social ao setor privado e a desconstrução da massa trabalhadora e do patronato enquanto classes, tornados colaboradores e gestores em definitivo, tais objetivos, caso declarados em um programa eleitoral, dificilmente teriam o apoio popular, nesse sentido, o mote da retomada do emprego e do crescimento, precedidos pelo da luta contra corrupção, escamoteia a natureza golpista de tais reformas e a tendência de empobrecimento, adoecimento, encarceramento, emburrecimento e enfraquecimento político da população, resultados últimos das teses neoliberais. As desigualdades sociais agravam ainda mais a situação das minorias, como os campesinos, que geralmente começam a trabalhar muito cedo, e as mulheres, vítimas da dupla jornada. Entre as propostas da reforma da previdência, estão a contribuição individual para o trabalhador rural, não mais sobre as vendas, e a igualdade do limite de idade para homens e mulheres, tais medidas já excluiriam um grande contingente do direito à previdência, já que não deveria se tratar de uma esmola mensal a partir da véspera do óbito – como se ao trabalhador fosse declarada a sua própria morte a partir da “improdutividade” -, mas de envelhecer com dignidade e qualidade de vida. Enquanto isso a desoneração do estado para a indústria e o agronegócio só aumentam. As reformas do governo Temer pretendem excluir as minorias dos seus parcos, mas fundamentais direitos, um país onde a base trabalha até a exaustão para o enriquecimento perpétuo das elites, com o estado a garantir todos os riscos dos seus empreendimentos e o botim através das suas rendas, um gabinete ministerial composto basicamente por homens brancos e nascidos em berços de ouro não poderia trabalhar de outra forma. Um dos principais planos da reforma trabalhista é a desvinculação da proteção universal da CLT à classe trabalhadora, como já acontece na prática, mas de forma muito mais abrangente, por exemplo, as relações profissionais não seria mais mediadas pelo estado, mas por “acordos” diretos dos funcionários com o patrão, seria o fim da Justiça do Trabalho, do poder da carteira assinada na vida da população e dos sindicatos, uma conjunção clássica de fatores para a inclusão social e política no Brasil. Por isso, a luta que há de se travar é tão importante quanto as mobilizações que antecederam a constituição, daí a necessária, mas improvável unidade do campo de esquerda, há indicativo de paralisação para 15 de março, além de visitas das centrais ao congresso nacional e audiências públicas nas assembleias legislativas – é importante aprender com o fiasco que foi a resistência das centrais ao impedimento de Dilma -, se as reformas não forem decifradas diante da população, as organizações de base, seus seminários e sindicatos serão apartados definitivamente da política nacional, a Esfinge da Av. Paulista lança o desafio, decifra-me ou te devoro.

D.F.